Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, convido-vos a uma serena reflexão sobre o cenário que está se esboçando sobre o mundo, sobre o nosso querido Brasil, nossas famílias e sobre a realidade do Homem hoje, na convivência de si para consigo mesmo e nas circunstâncias em que se encontra inserido.
Numa análise superficial poderíamos constatar uma
série de conquistas, uma série de avanços, uma cadeia de benefícios que
outrora circunscrito a uma minoria, vêmo-lo socializada e compartilhada
com uma grande maioria.
Não podemos nos omitir, que ainda há uma grande
massa de excluídos, onde sentimos minguar-lhe o pão, o agasalho, a
saúde, o emprego, em síntese, ainda temos dois hemisférios bem
distintos: os que tudo tem, e os que nada tem.
Mas, seguindo a didática do convite inicial,
contemplemos a realidade que nos chega diariamente pelos meios de
comunicação. Vejamos que a decantada Primavera Árabe converteu-se numa
luta fratricida, sanguinolenta, carregada de intolerância, de
sectarismo, de violência e o pior de tudo de radicalismos.
O Oriente Médio beira a um conflito bélico, cujas consequências são inimagináveis.
Um olhar, mesmo superficial sobre a culta e
histórica Europa, vemo-la se esfacelando no desemprego, na incerteza
econômica e numa revolta popular também incomensurável.
Voltando-nos para o nosso Brasil, apesar dos
pregoeiros de plantão anunciarem êxitos e sucessos na economia, na
distribuição de renda e num bem estar social, nós, os que se aprofundam
um pouco no estudo de nossas estatísticas, constatamos que a inflação
nos ameaça, que nossa indústria vem decaindo, que nossa dívida pública
cresce, isto senão considerarmos o estado de sítio em que vivemos, a
falta de segurança que martiriza nossa comunidade, além de outras
mazelas como: o alastramento da droga, a insuficiência da saúde pública,
a prostituição proliferante e tantos e tantos outros problemas sociais.
A família se encontra em processo de dilaceração. Fastidioso seria enumerar os males que a afligem e angustiam.
A esta altura, convido-os a pensar no Homem e no
meio que o cerca. Como defini-lo, como analisá-lo, como devassar seu
âmago, sua essência ontológica?
Facilmente, constata-se que a presença da
angústia, da inquietude, do mal estar o conduz com velocidade a
depressão. Basta considerarmos o último dado da Vigilância Sanitária, o
Brasil figura em 2ºlugar no mundo, como o País que mais consome
psicotrópicos.
Ante todo este cenário, pergunta-se o que está faltando para o homem e o mundo encontrarem seu rumo.
O Santo Padre Bento XVI, com sua sensibilidade e
seu profundo conhecimento seja cientifico, seja espiritual, à luz de
tudo isso decidiu proclamar no recém findo 11 de outubro de 2012, um ano
da Fé, colhendo do evento para celebrar o cinquentenário da abertura do
Concílio Vaticano II (11 de outubro de 1962) e os vinte anos da
publicação do Catecismo da Igreja Católica. O primeiro, o Concílio
Vaticano II, desejado pelo beato João XXIII e o segundo pelo beato João
Paulo II (11 de outubro de 1992).
Frisou o Papa que seu intento era fazer o homem
redescobrir o caminho da Fé, nela encontrando a alegria e o renovado
entusiasmo do encontro com o Cristo vivo sempre perene na história.
O homem de hoje, enfatiza o Santo Padre, se
confunde com um peregrino trilhando a aridez do deserto, perdendo a
alegria do ser e a riqueza do viver.
Quando se é confrontado com a essência da Fé, não a
consideramos como mero conhecimento de uma doutrina social, cultural,
política que nos foi legada pelos que nos precederam, mas a temos como
uma segunda natureza, que conosco caminha, que conosco pensa, que
conosco decide, que cria atitudes, gestos e comportamentos.
A fé não pode ser concebida formando uma dicotomia
entre Fé e Vida. Ter fé quando oramos, quando participamos de atos
litúrgicos, sim, mas sua substância, sua presença é realmente eficaz,
quando a inteireza da minha vida é toda ela impregnada, concebida,
mergulhada, decidida pela Fé.
Vida e Fé se conjugam numa simbiose tão perfeita, que não nos permite ter atos de vida sem fé, nem ter fé sem atos vitais.
“Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e
a luz fique escondida (Mt 5,13-16).” O homem “contemporâneo afligido
por tantos percalços” tem necessidade de, como a Samaritana, ir ao poço
para ouvir Jesus que o convida a crer nele e beber na sua fonte, donde
jorra água viva (Jo 4,14).
Insiste o Papa: “Também o homem contemporâneo pode
sentir de novo o gosto de se alimentar da Palavra de Deus, transmitida
fielmente pela Igreja e do Pão da Vida, oferecidos como sustento de
quantos são seus discípulos (Jo 6, 51)”. De fato, em nossos dias, ressoa
ainda como uma força este ensinamento de Jesus: “Trabalhai, não pelo
alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá vida eterna
(Jo 6,27)”. A questão então posta por aqueles que o escutavam é a mesma
que colocamos nós também hoje: “que havemos nós de fazer para realizar
as obras de Deus(Jo 6,28)?”. Conhecemos a resposta de Jesus: “a obra de
Deus é esta: crer naquele que Ele enviou (Jo 6,29)”. Por isso crer em
Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar definitivamente à
salvação.
O azáfama dos dias presentes vai gestando na
existência do homem uma impaciência por resultados. Trabalha-se em
excesso para acompanhar a sociedade de consumo onde nos encontramos
inseridos. Ora é o carro da moda que se torna objeto dos nossos desejos,
ora é a escola particular, cada dia mais exigente, que nos faz
multiplicar a jornada de trabalho para cumprirmos a responsabilidade
assumida, ora é o apartamento novo, a chácara desejada, enfim é uma
centena de apelos que, lentamente, vão invadindo a existencialidade do
nosso ser, que quando abrimos os olhos somos inconscientemente
prisioneiros da acidentalidade que nos cerca. O resultado deste acervo é
a perda definitiva de nós mesmos, é a impaciência que com frequência se
converte em aborrecimento, em brigas, em intolerância, em conflitos.
Transformamo-nos no que vulgarmente chamamos, o homem é uma pilha,
pronto a explodir por tudo.
É aqui que colocamos a interrogação. Neste
turbilhão não nos damos tempo para nós mesmos, para criarmos o silêncio
profícuo para reflexão, não criamos espaço para a FÉ.
O refrão frequente que sempre estamos ouvindo é:
não tenho tempo. Os dias passam, a maturidade biológica chega e nós
continuaremos o mesmo inconsequente: onde estão os teus valores? Onde
ficou teu espaço interior? A fé só prospera onde existe a paciência. Ela
nunca ocupará seu espaço, se nós não reservarmos a nós mesmos, o tempo
para contemplação, para interiorização, para conferência da sempre atual
pergunta: quem somos nós?
A Fé nos concede a renovada convicção que gesta em
nós confiança e esperança. A Fé nos torna fecundos e nos ensina a
romper o casulo do nosso EU, pequeno e mesquinho e nos lança nos braços
da caridade. A serenidade, a bondade, a tranquilidade são frutos da Fé. A
convivência generosa com o outro, seja ele o próximo mais próximo, ou o
outro ferido, magoado, desprezado, excluído só nos é possível, se a Fé
crepita ardente no nosso ser.
Vamos juntos viver o privilégio do ANO DA FÉ.
Muito obrigado.
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