Pesquisas comprovam que o cérebro reage positivamente aos aromas do café
O
café é um alimento funcional e nutracêutico. Essa máxima já é aceita
pela comunidade médico-científica por estar relacionado à prevenção de
doenças físicas, mentais e degenerativas e à manutenção da saúde.
Pesquisas comprovam que o café vai muito além da cafeína, contendo
também diversos nutrientes: minerais - como cálcio, potássio, zinco,
ferro, magnésio -, aminoácidos, proteínas, lipídeos e ainda elementos
antioxidantes, entre eles os ácidos clorogênicos.
O médico neurologista Jorge Moll Neto, presidente do Instituto D’Or Pesquisa e Ensino,
desenvolve pesquisa desde 2009 sobre os efeitos do café no cérebro. A
etapa inicial da pesquisa, intitulada “Correlatos neurais da experiência
olfativa e gustativa do café”, contou com a participação de 30
voluntários e tem o apoio do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de
pesquisa é coordenado pela Embrapa Café. O objetivo é entender os
efeitos sensoriais causados pelo aroma do café no cérebro,
especificamente nos mecanismos de recompensa (prazer) e motivação. Moll
constatou que o aroma do café tem um efeito poderoso sobre as regiões do
cérebro que regulam a sensação de prazer, atenção e motivação.
Segundo
o neurologista, o que motivou a pesquisa foi compreender os mecanismos
que levam as pessoas a tomar e apreciar o café, a bebida mais consumida
no mundo depois da água, sendo o Brasil o segundo maior consumidor
depois dos EUA. “O café é riquíssimo em compostos químicos, muitos com
efeitos biológicos ainda desconhecidos. Muitas dos benefícios atribuídos
ao café – por exemplo, o efeito de estímulo intelectual e social –
ainda não são compreendidos, e é por esse motivo que a Neurociência e a
Medicina precisam estudá-lo”, afirma.
Pesquisa -
De acordo com Moll, os voluntários são submetidos a um “exame” de
ressonância magnética. À máquina que realiza o exame, está acoplado um
aparelho especialmente desenvolvido para apresentar os aromas: o
olfatômetro, o qual através da abertura e fechamento de válvulas permite
que diversos aromas de café sejam apresentados ao voluntário. “Por meio
de vários finos tubos que chegam próximos ao nariz dos voluntários,
apresentamos diversos aromas de café de forma precisamente controlada.
Verificamos que o aroma do café age em vários circuitos cerebrais. A
primeira região que detectamos foi a da percepção olfativa 'genérica',
chamada córtex olfativo, onde o cheiro é percebido”, explica. Moll
salienta que qualquer tipo de cheiro ativa essa região. “O que chama
atenção, no caso do café, é a potência com que o aroma da bebida evoca
ativação em outras regiões do cérebro, envolvidas na experiência de
recompensa ou prazer, assim como em mecanismos da atenção seletiva”.
O
neurocientista compara o café, por exemplo, com o vinho ou com os
perfumes. Segundo ele, o café é mais rico no perfil de aromas do que
qualquer uma dessas substâncias. “O café tem mais de 200 componentes que
são liberados no ar (“voláteis”) e muitos desses podem ser percebidos
pelo olfato", completa.
Futuro –
A pesquisa pretende ainda descobrir se existem compostos químicos no
café com efeitos mais seletivos, ou seja, se certos compostos estão
associados a experiências subjetivas mais específicas e a regiões
diferentes do cérebro. “O objetivo agora é a construção de um novo
olfatômetro, permitindo apresentação de maior número de amostras com
maior intensidade e precisão temporal. Certos cafés com diferentes
concentrações de substâncias podem ter efeitos diferentes em relação à
atividade cerebral”, assegura Moll.
Doenças físicas –
De acordo com estudos norte-americanos, o consumo de café pode diminuir
as chances de acidentes cardiovasculares (infartos) e cerebrais
(“derrame” ou AVC), de diabetes e hipertensão, além de diminuir
incidência da osteoporose e de crises de asma, nesse caso devido ao
efeito brancodilatador da cafeína. A bebida melhora ainda a capacidade
de atenção, memória e aprendizado.
“É claro que cada indivíduo é único e reage de uma forma. Os horários
mais recomendados para se tomar café são no café da manhã, depois do
almoço e à tarde. Algumas pessoas não devem consumir café ao fim da
tarde ou à noite, pois poderão ter insônia devido à cafeína. Em média, o
consumo recomendado, de acordo com estudos epidemiológicos sobre os
benefícios do café, é de três a seis xícaras ao dia”, esclarece.
Doenças mentais e degenerativas - O
café também é conhecido por seus potentes antagonistas opióides, os
quinídeos, formados na torra do café a partir dos ácidos clorogênicos.
São pouco conhecidos outros efeitos no organismo humano dos quinídeos,
que também possuem uma ação inibidora da recaptação da adenosina,
atuando como citoprotetor (ou seja, protegendo a célula de efeitos
oxidantes). Por isso, os ácidos clorogênicos e os quinídeos formados na
torra adequada do café podem até ser mais importantes que a cafeína na
bebida e de grande ajuda na prevenção e controle de distúrbios como a
depressão, o alcoolismo e o uso de drogas. Estudos também comprovaram
que o consumo de café pode prevenir doenças neurodegenerativas, como
Parkinson e Alzheimer, potencialmente devido ao seu efeito antioxidante.
Consórcio Pesquisa Café
- Congrega instituições de pesquisa, ensino e extensão localizadas nas
principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a
interação das instituições e a otimização de recursos humanos, físicos,
financeiros e materiais. Foi criado por dez instituições: Empresa Baiana
de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto Agronômico - IAC, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras - Ufla e Universidade Federal de Viçosa - UFV.
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