Opinião

Cocal dos Alves, modelo a seguir

Por Pedro Luiz Rodrigues

A Presidente Dilma Rousseff não gosta nem um pouco de ser tapeada, e é por isso que em algumas ocasiões chega a ser extremamente severa com alguns de seus ministros.

Quando identifica um problema, odeia desculpas esfarrapadas e exige ação concreta e efetiva.

Diferentemente do que ocorre na vizinha Argentina, não passa pela cabeça de nossa Presidente mandar maquiar os índices econômicos e sociais, para dar tonalidade rósea a uma realidade onde o cinza é ainda a cor predominante.

Esse sentido realista está por trás da campanha que acaba a Presidência de lançar, proclamando que “o fim da miséria é só um começo”, ao anunciar a ampliação das transferências de renda às famílias mais necessitadas.

A expectativa do Governo é a de 2,5 milhões de brasileiros se somem aos 22 milhões que já se beneficiam do programa Bolsa Família  e já ultrapassaram a linha faixa da pobreza extrema.

A distribuição de renda é uma coisa positiva, quanto a isso não há dúvida.

Mas esquemas redistributivos assistencialistas, quando não se fazem acompanhar de uma verdadeira revolução na área educacional, simplesmente fazem perpetuar as desigualdades.

E o Brasil, nesse contexto, tem ainda muito a trilhar.

Nossa educação fundamental, primeiro passo para formar cidadãos e assegurar ao País um futuro melhor, continua, infelizmente, um desastre.

Os municípios, responsáveis por esta etapa crucial na formação de nossas crianças, não dão conta do recado. Simplesmente, em sua maioria, não atribuem à educação a prioridade que ela deveria ter.

Os prefeitos costumam esconder sua incompetência brandindo o argumento da insuficiência de recursos. Pura balela. Pois se assim fosse, a pobre Cocal dos Alves, a 262 quilômetros de Teresina, no interior do Piauí (faz fronteira com o Ceará) não de destacaria, ano após ano, pelo desempenho de seus alunos na área da Matemática.

E o povo de Cocal dos Alves tem orgulho desse desempenho, tanto que reelegeu o prefeito Antonio Lima de Brito (PSB), mais conhecido por Silvestre. Com ele não tem essa conversa de que o dinheiro não dá. Recebeu R$ 9 mil do PNAE, mas botou mais R$ 17 mil do próprio município para melhorar a qualidade da educação.

Bom prefeito, bons professores e prioridades claras, é a receita infalível.

Se tivéssemos mais Silvestres, que arregaçam a manga e vão à luta, não estaríamos nos lamuriando dos dados recentemente divulgados pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) sobre a educação nos países da América do Sul. A tabelinha mostrou que grau de escolaridade brasileiro, nos deixa empatados, no último lugar, com o Suriname.

O MEC, obviamente não gostou nada dos dados, e disse que a média de escolaridade no Brasil não é de 7,2 anos, mas de 7,4 anos. Ah bom, deixamos o Suriname para trás e também a Colômbia.

Não sei que explicação terá nosso dinâmico Ministro Mercadante para a terceira coluna dos dados do PNUD, que trata do grau de alfabetização dos adultos (mais de 15 anos de idade) no País: 90,3%. Nesse quesito só estamos melhores do que o Peru, mas muito atrás do primeiro lugar, o Chile (97,6%).

Em último lugar, isolados, nos posicionamos do item “evasão escolar no ensino fundamental”: 24,3%. O índice de evasão, na Colômbia, país com o qual o MEC gosta de nos comparar, foi o menor da região: 1,5%.

A Presidente tem razão: o fim da miséria é apenas um começo.

As dificuldades na área educacional são conhecidas e não serão resolvidas com a rejeição de dados.
É preciso uma verdadeira cruzada para valorizar a educação no país.

É preciso chamar o Prefeito de Cocal do Alves a Brasília, com urgência. Quem sabe, para oferecer-lhe um Ministério.

* PedroLuiz Rodrigues é diplomata da carreira, jornalista e meu amigo.

Um comentário:

  1. Região de Cocal dos Alves ainda vive situação de litígio! Muitas dúvidas .e confusões entre Piauí e Ceará desde o tempo da troca de Armarração por Cratéus no século IX.

    ResponderExcluir