Opinião

A busca para sair da rabeira

Por Pedro Luiz Rodrigues

A Presidente Dilma Rousseff anda um tanto irritada nos últimos dias.  É que com tanta coisa para fazer, vê-se obrigada a empregar mais tempo do que desejava nas coisas da política, esse fuzuê onde se entrecruzam egos colossais e ambições idem. De um lado estão os petistas, que deviam apoiá-la, mas nem sempre o fazem, pois afinal têm também suas agendas de bairro, seus interesses municipais , suas aspirações estaduais. De outro, estão os aliados. Dilma está aprendendo que exceto pelo PMDB, ela não pode confiar em fazer pactos com mais ninguém. Que situação!!!

No momento, a situação que mais lhe aguça o mal humor é o comportamento de seu suposto aliado – hoje, claramente, o ex aliado -, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.   O governador surpreendeu a muitos ao partir com unhas e dentes contra o governo e a Presidente, em programa recente do PSB, transmitido na TV e no rádio.

A Presidente, que não gosta de levar desaforo para casa, já estava preparada para a retaliação. Alguns jornais chegaram a sugerir que ela tiraria o PSB de cargos que possui no âmbito do governo federal.

Intrigado pelo que me pareceu um excesso de virulência do jovem político pernambucano, fora de hora (considerando que um ano e meio ainda nos separam das eleições presidenciais do ano que vem), conversei com meu amigo Amauri Teixeira, consultor político dos mais atilados, e com larga experiência no trato com as coisas de Pernambuco, para tentar entender o que está havendo.

Chegamos à conclusão de que a Presidente Dilma não precisa tomar os ataques do ex aliado como uma afronta pessoal. Ele está simplesmente usando  uma tática batida, comumente recomendada pelos marqueteiros,  para consolidar a imagem de um político pouco conhecido junto ao público nacional.

Eduardo Campos, ao que tudo sugere, vai fazer de tudo para passar à frente do senador Aécio Neves e de Marina Silva na próxima pesquisas de intenção de voto para presidente.

Se tudo seguir conforme a cartilha dos marqueteiros, uma pesquisa deverá ser realizada imediatamente após a superexposição de Eduardo Campos na mídia, quando sua simpatia combativa ainda estará reverberando em milhões de lares brasileiros, os mesmos  que até há alguns dias simplesmente nunca tinham ouvido falar dele.

Se for correta a premissa, não será por outra razão que além dos comerciais nacionais,  o jovem governador pernambucano ocupa grande fatia dos comerciais estaduais do PSB e foi a estrela do programa partidário de 10 minutos, levado ao ar nesta quinta-feira, 25.

Essa próxima pesquisa deve ser muito bem feita. Para empurrar a candidatura de Campos, o questionário deverá ser montado em bases já conhecidas, a principal das quais é a de oferecer ao entrevistado diversas informações sobre o político que se quer beneficiar.  As perguntas vão sendo conduzidas de modo que quando se chega à final – sobre a intenção de voto – o nome do pré-candidato cabe sob medida.

Segundo nosso chutômetro, o casamento de pesquisa e superexposição na mídia garantirá a Eduardo Campos um crescimento de 5 a 7 pontos percentuais. A estruturação do questionário poderá contribuir para que ganhe mais um ou dois pontos.

É esse aumento que o governador de Pernambuco precisa de todas as maneiras, pois não se sente confortável na situação de rabeira em que se encontra.

Segundo pesquisa Datafolha realizada em março, no cenário com quatro candidatos, a presidente Dilma apareceu com 58%; Marina Silva veio bem atrás, com 16%; Aécio teve 10% e Eduardo Campos, 6%. Pelos números do Ibope, em estudo também realizado em março e com a mesma lista de candidatos, Dilma obteve 58%; Marina, 12%; Aécio, 9% e Eduardo, 3%. Feitas as contas, fica fácil imaginar um cenário no qual esse esforço concentrado coloque Eduardo Campos na frente de Aécio e próximo a Marina, talvez até em empate técnico no segundo lugar.

Ao truque da pesquisa, costuma-se  somar  outra esperteza. A pesquisa será apresentada como uma radiografia do momento, o que deixará a impressão de que a candidatura de Eduardo Campos está muito forte, podendo chegar a ocupar o segundo lugar na corrida sucessória, isso a mais de um ano e meio das eleições.

Na verdade, esse tipo de estudo, que aproveita superexposição e usa o questionário para fornecer informações adicionais sobre pré-candidatos, é uma projeção de cenário, um laboratório no qual itens de uma campanha são testados na pesquisa. Um resultado bem diferente do que seria obtido numa pesquisa que retratasse o momento de sua realização.

Esse truque foi usado muitas vezes para construir e incensar candidaturas, entre elas a de Marina Silva, em 2010.
Em minha opinião, a Presidente não deveria se preocupar tanto com o adversário não declarado. Pelo menos por enquanto ele está mesmo na rabeira e não lhe faz a menor sombra.
Pedro Luiz Rodrigues é diplomata e jornalista. E meu amigo.
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