Opinião

Somos chamados a crer

Mauro Santayana
O que o papa vem dizendo em público — e ele falou de forma descontraída com os jornalistas, enquanto voava rumo ao Rio — é simples. O hedonismo, o amor ao dinheiro e ao lucro, o desperdício, estão sepultando a História. Ao perder seu passado, o homem perde o seu futuro. Há, em nosso tempo, e com a dissolução da família, o desprezo pelos jovens e pelos velhos.
Os robôs, como se sabe,  substituem os moços, nos processos industriais que produzem para o descarte e o desperdício. Os velhos são vistos como trastes imprestáveis, que necessitam de cuidados caros. Mas, conforme o papa, de sua experiência e saber depende a sobrevivência de todos.
A situação é ainda mais grave do que em 1962, quando se reuniu o Concílio do Vaticano II, convocado pelo cardeal Roncalli. O novo pontífice substituía Pio XII, acusado de haver sido protetor de Hitler em seu tempo de arcebispo de Munique — ao contrário de seu antecessor, Pio XI, que mandou apagar as luzes do Vaticano na noite em que o ditador alemão pernoitou em Roma.
Roncalli era um homem de fé e simples em sua vida pessoal — um traço em comum com o argentino Bergoglio — disposto a restaurar alguns princípios cristãos, abandonados pela Igreja ao longo dos séculos. Infelizmente, a sua influência, ainda que poderosa, sobre o Concílio, durou pouco. Tendo aberto o encontro em 11 de outubro, morreu menos de um ano depois, em 3 de junho do ano seguinte.
É interessante cotejar a pregação do pontífice com as declarações do presidente do Banco Mundial, o sul-coreano Jim Jong Kim, que defende, com veemência, a globalização neoliberal e os cortes nos orçamentos sociais dos Estados. Isso, ao mesmo tempo em que a Security and Exchange Comission norte-americana autoriza os bancos a comprarem, estocarem e venderem mercadorias como o alumínio, o cobre, o ouro e outros metais. Os bancos passam, assim, a exercer o monopólio mundial dos metais, ditando os preços ao seu arbítrio.
Já podemos prever o destino do mundo, se não ouvirmos a mensagem cristã, que Francisco reafirma nesta sua viagem ao Brasil, depois de haver visitado o porto de Lampedusa, porta de entrada, na Europa, dos flagelados pela miséria na África, que  chegam em botes frágeis. O papa deixou claro, ali,  que não há fronteiras diante do direito à vida.
Reagir, enquanto é tempo, e em todos os lugares do mundo, é a única forma de salvar a espécie.

Mauro Santayana é jornalista e meu amigo. 

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