A luta contra a lepra


Ceará ainda está em situação preocupante
Manchas na pele e perda de sensibilidade tátil e térmica estão entre os principais sintomas da hanseníase, uma doença considerada endêmica em todo o Brasil, com prevalência de 1,42 casos por 10 mil habitantes. Em 2014, a taxa de detecção geral foi de 12,14 por 100 mil habitantes, correspondendo a 24.612 casos novos da doença no País.
Se comparado com os 31.044 casos registrados em 2013, no ano passado houve uma queda de 6.432.  No Ceará, por exemplo, o coeficiente de detecção está em queda há 13 anos. Os números oscilaram de 34,7 casos por 100 mil habitantes em 2001 para 18,5 em 2014, com 1.595 casos detectados no ano passado. No Ceará, houve notificação de casos em 164 dos 184 municípios do Estado. Entre os municípios onde se concentram a maioria dos casos estão Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Sobral, Iguatu e Icó.
 O Ministério da Saúde estabelece como compromisso alcançar a meta de menos de um caso por 10 mil habitantes, com o aumento da detecção precoce e a cura dos casos diagnosticados. Para a articuladora estadual do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase, Gerlânia Martins, mesmo com a redução dos casos registrados, os números do Ceará ainda preocupam. “Estamos em uma situação considerada preocupante, ainda não chegamos onde queremos. Mas o trabalho está sendo contínuo na busca ativa do diagnóstico precoce. Estamos organizando a rede básica, capacitando profissionais e monitorando cada município no processo de controle da doença”.
 Gerlânia credita a redução dos casos à expansão dos trabalhos de combate. “Quando se descentraliza, facilita-se o acesso ao diagnóstico. Aos poucos, a tendência é tirar de circulação o bacilo da hanseníase e quebrar a cadeia de transmissão”. No entanto, ela afirma que a baixa é fruto de trabalho de longo prazo. “Desde 2001, a gente está monitorando e, a partir de 2009, é que os números começaram a ter uma significativa queda.”

JOVENS
Na população menor de 15 anos, houve registro de 1.793 casos. Já entre 2001 e 2014, foram notificados 2.024 casos novos de hanseníase em menores de 15 anos. Para a médica da equipe do programa de controle da hanseníase, Ana Fátima Porto, o crescimento do diagnóstico em jovens é motivo de alerta, pois uma criança doente sinaliza que há um adulto infectado transmitindo hanseníase. “O tempo de encubação da doença é longo, entre 2 a 5 anos, e não era para estar acontecendo em jovens. Realmente é um fato que está sendo investigado e se está na busca de novos casos para que este problema possa ser combatido cedo.”

A DOENÇA
A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, causada pelo bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae), em que a transmissão ocorre pelas vias respiratórias, especificamente pela saliva. Mesmo sendo considerada contagiosa, a médica explica que 80% da população têm resistência natural ao problema. Além disso, a evolução depende de características do sistema imunológico da pessoa que foi infectada. “Geralmente é transmitida por uma pessoa que está com a doença em estágio avançado e sem tratamento, para uma outra saudável e suscetível. Por isso é importante que o diagnóstico seja feito precocemente, para que as pessoas com hanseníase não continuem na comunidade sem tratamento.”

DIA MUNDIAL
Em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a Hanseníase, celebrado sempre no último domingo de janeiro, durante este mês está sendo realizado um movimento de educação e saúde, com palestras e divulgação no sentido de dar maior visibilidade ao problema. “Nos outros meses, são iniciadas as ações cotidianas, de casa em casa, com capacitações de profissionais e assessorias nas equipes do Programa Saúde da Família dos municípios. Quanto mais pessoas estiverem trabalhando juntas, mais fácil e rápida será a detecção e o controle da doença e assim aumentarão as possibilidades de chegarmos à meta do Ministério”, complementou Gerlânia.

TRATAMENTO GRATUITO
O tratamento para hanseníase é gratuito e oferecido na rede básica do Sistema Único de Saúde (SUS). No Ceará, o Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, no Centro de Fortaleza, atendimento é uma das principais unidades de acompanhamento e atendimento às pessoas com hanseníase. A rede estadual tem ainda dois centros de reabilitação: o Hospital de Dermatologia Sanitária Antônio Justa, em Maracanaú, e o Centro de Convivência Antônio, em Redenção.
 A médica Ana Fátima Porto explica que, mesmo sem vacina para o combate da doença, os medicamentos são eficientes. Após iniciado o tratamento, o paciente para de transmitir a doença quase que imediatamente. “Ainda não existe uma vacina que ofereça imunidade definitiva à hanseníase. A BCG ajuda, pois melhora a imunidade celular da pessoa e, este indivíduo mais forte, evita contrair as formas graves da doença, já que a evolução do problema depende de características do sistema imunológico de cada indivíduo. O tratamento acontece com medicamentos que são fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entregues ao governo federal que distribui para o governo estadual. Os remédios não são vendidos em farmácias”, disse.

TEM CURA
A hanseníase tem cura, mas pode causar incapacidades físicas se o diagnóstico for tardio ou o tratamento não for realizado adequadamente, pelo período preconizado, já que atinge pele e nervos. Segundo Fátima Porto, que assim como ainda não existe vacina, também não existe exame específico que detecte a doença. “O diagnóstico é clínico e ainda não tem exame específico para comprovar a doença. Tem exames que auxiliam o diagnóstico, mas não comprovam.”

FACHADA ILUMINADA
Nesta última semana de janeiro, a fachada da Secretaria da Saúde do Estado ficará iluminada nas cores marrom, vermelho e bege como parte das ações do Dia Mundial de Luta e da campanha “Hanseníase: quanto antes você descobrir, mais cedo vai se curar”, do Ministério da Saúde. As cores que iluminam o prédio representam os tons das manchas provocadas pela doença.
 Durante todo o dia de ontem, uma série de atividades, como exibição de filmes, e rodas de conversas com profissionais de saúde do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, aconteceram na sede da Secretaria da Saúde do Estado, na Praia de Iracema.

AÇÕES DE COMBATE À DOENÇA EM FORTALEZA
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), as ações de combate à hanseníase estão intensificadas nos bairros da Regional V, onde se concentram 40% dos casos de hanseníase de Fortaleza. No trabalho, os agentes de saúde visitam a população em busca de pessoas com sinais e sintomas de hanseníase e encaminham para as unidades de saúde onde passam por avaliação médica.
Para a articuladora da Célula das Condições Crônicas da SMS, Katia Denise Andrade, as ações de sensibilização da população e capacitação dos profissionais contribuem para uma identificação mais rápida dos casos. “Aproveitamos esse momento para intensificar a busca dos sintomáticos dermatológicos e, assim, encaminhar de forma rápida o paciente para o início do tratamento”, complementou.

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