Opinião

Armai-vos uns aos outros
Carlos Brickman



Na lanchonete de um grande hospital, um ex-ministro petista é insultado a gritos e acaba tendo de se retirar. No Rio, onde se realizava um ato governista, um senhor de cabelos brancos, com camiseta pró-impeachment, é agredido a pontapés por manifestantes petistas. E os líderes partidários acirram as tensões.

Palavra de Lula: "Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas". Frase perigosa - no dia 15, estão marcadas manifestações contra Dilma. Será levado para a política o clima das torcidas organizadas, que marcam brigas pela Internet?

Certas coisas ficaram claras com a declaração de Lula: o MST, como sempre disseram seus adversários, não é um movimento autônomo, mas tropa auxiliar do PT; e os sem-terra não são sem-terra, mas soldados do exército de João Pedro Stedile, comandante do MST, que pode ir às ruas a chamado de Lula. Tanto os radicais que agrediram verbalmente um ex-ministro (que sempre se comportou civilizadamente) quanto Lula, é este o futuro que desejam para o Brasil?

E vamos parar de besteiras, cavalheiros, a respeito da força de cada lado. Em 1964, havia Generais do Povo (um deles, o marechal Osvino Alves, era presidente da Petrobras), havia as Ligas Camponesas de Francisco Julião, havia os Grupos dos Onze de Leonel Brizola, havia os marinheiros amotinados, e era tudo fumaça. O Governo caiu sem resistência. Perderam todos, de ambos os lados.

A hora é de calma. Ninguém deve ser Tiradentes com o pescoço dos outros.

O ganha-perde

Dos três líderes civis do movimento vitorioso contra Jango, dois foram cassados, Lacerda e Adhemar, e um, Magalhães Pinto, que sonhava ser presidente, teve de contentar-se em ser chanceler (mais tarde, perderia até seu banco). O militar que iniciou a revolta, general Mourão Filho, foi encostado. Do lado do Governo, quem mais pedia luta não chegou a lutar: muitos foram exilados, inúmeros presos, muitos torturados, vários assassinados. O líder dos marinheiros amotinados, Cabo Anselmo, jogou dos dois lados. E nada ganhou de nenhum deles. Vive na clandestinidade, é malvisto, nem fortuna amealhou.

Quem quer o confronto sempre perde. Vence quem não estava na briga.

Mais longe, tão perto

Alguns dos movimentos de rua mais sanguinários, como os camisas pardas nazistas e os camisas negras fascistas, nasceram do recrutamento de marginais pagos. Depois reuniram oportunistas e prepotentes. Quem os comparar com esse pessoal que recebe 50 reais, sanduíche e tubaína, estará certo. Cuidado com eles.

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