O mundo tá de cinto apertado

Duelo de recordes de produção afunda preço do petróleo, já afetado por desaceleração chinesa 

Volta do Irã ao mercado piora cenário; reservas americanas são as únicas em queda

Ana Siqueira*
O petróleo continua sua trajetória de intensa desvalorização e os países produtores parecem não dar sinais de que diminuirão sua produção para, assim, estimular os preços do barril. As reservas do gás de xisto norte-americano estão em queda, mas o mercado ainda não sabe qual será o real impacto disso nas negociações. Apenas nos últimos 12 meses, o Brent caiu mais de 50% e, hoje, não ultrapassa os US$ 50. A volta do Irã ao mercado produtivo intensifica os debates, aumentando as previsões de oferta. Do outro lado da equação, a desaceleração chinesa diminui a demanda pelo produto.
Segundo uma notícia publicada pelo The Wall Street Journal, analistas do Goldman Sachs Group Inc., reconhecidos por notáveis previsões sobre o setor petrolífero, dizem que o preço de referência do produto terá de recuar até US$ 20 para dar fim ao excesso de oferta global. O banco americano acredita que o barril não chegará a esse patamar, pelo menos por agora, mas que "o cenário radical ressalta a surpreendente força da produção mundial de petróleo após a queda expressiva nos preços ocorrida no ano passado".
Dentre os países produtores, apenas nos Estados Unidos a produção está recuando. Na última sexta-feira (18), a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) informou que a produção de petróleo de xisto cairá cerca de 400 mil barris diários em 2016. Analistas ainda não sabem qual o real impacto da notícia para o mercado de petróleo, mas o recuo dá à Arábia Saudita uma chance de reconquistar parte do market share perdido com o aumento da produção americana. De acordo com a IEA, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) produziu 31,6 milhões de barris por dia em agosto, acima de sua meta de 30 milhões de barris diários.
Por outro lado, o Irã informou que retomará sua produção assim que as sanções ocidentais sobre o país forem suspensas. O governo da capital iraniana, Teerã, espera aumentar sua produção, nos próximos dois meses, em 500 mil barris por dia. O aumento daqui a sete meses deve chegar a um milhão de barris por dia. Na última quarta-feira (16), o diretor de assuntos internacionais na Companhia Nacional Iraniana de Petróleo, Mohsen Qamsari, afirmou: "Tentaremos maximizar nossa capacidade de exportação de petróleo".
O diretor também disse que o país, que tem uma das maiores reservas do mundo de petróleo e gás natural, deverá manter o arranjo das exportações, vendendo 60% de seu petróleo para a Ásia. Antes das sanções impostas pelo Ocidente, Índia, Japão, Coréia do Sul, China e Indonésia estavam entre os principais importadores de petróleo iraniano e o país chegava a exportar quase três milhões de barris por dia. Com as limitações, as exportações diminuíram para um milhão de barris por dia nos últimos dois anos. O governo do Irã afirmou que, em dezembro, irá revelar maiores detalhes dos contratos de venda de petróleo em uma conferência em Londres.
Reforçando o posicionamento da Opep de não baixar seus níveis de produção, na última quinta-feira (17) a chefe do Kuweit na entidade, Nawal al-Fuzaia, afirmou que o mercado de petróleo vai se reequilibrar sozinho e que os países "precisam ser pacientes". Durante um fórum sobre mercados de energia no Emirados Árabes Unidos, Fuzaia disse que o atual desequilíbrio no setor advém de vários fatores, não somente da queda no crescimento da China. "O enfraquecimento da demanda na China é uma questão de curto prazo. Não acho que isso vai ter um efeito na participação de mercado da Opep", afirmou a representante. Mesmo assim, o gigante asiático responde por grande parte das importações de commodities do mundo. Uma desaceleração de sua economia significa, portanto, uma drástica redução na demanda mundial.

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