Estórias e histórias


Não é conto de Natal
Era uma vez uma comunidade de ratos. Tinha rato grande, rato pequeno, rato médio, mas tudo rato e como ratos, todos vorazes roedores da roupa do rei de roma.
Abrigada numa bodega rica, onde de tudo havia, um belo dia, um deles descobriu uma passagem, pelo telhado, que dava numa prateleira, no cocuruto de uma parede do estabelecimento.
Lá, estava um apetitoso estoque de mel de abelha. Daqueles translúcidos e de vários sabores, porque o dono da bodega arrumava mel de muitas florações, como floração de caju, de marmeleiro e pela aí.
Sabido, o descobridor não contou nada a ninguem da comunidade até descobrir e devorar umas três ou quatro garrafas do "precioso alimento".
Como rato vive desconfiado de rato, um deles seguiu o bonitão numa daquelas suas escapadas noturnas. Descobriu a arrumação e tratou de divulgar, porque rato não é de roubar sozinho mel de bodegueiro.
E formaram-se então filas e filas desbastando o estoque de mel do homem que um dia descobriu. Pra sua proteção, botou umas calhas, aumentou umas telhas, espichou umas ripas mas a turma achou fórmula de driblar as proteções.
Vendo que ia acabar perdendo tudo aquilo e aconselhado por um pessoal de uns prédios vizinhos, o bodegueiro armou umas ratoeiras, daquelas de disparo e as arrumou ao longo do que seria o trajeto do rataral.
Um dia, uma delas torou o rabo de um comensal, instrumento utilizado para que todos se locupletassem. Faziam assim: tiravam a rolha, devidamente roída, enfiavam o rabo lá dentro e lambiam. Tinha até quem tivesse o rabo maior e ajudasse a alguns menores, quando seus rabos já não alcançavam o fundo de uma ou outra garrafa. Pois bem. O rato lá, flagrado por descuido ou por excesso de confiança, ficou bicó e durante muitos dias entristecido de dor e de vergonha. Mas isso passou logo que vergonha não é bem o forte de um rato e dor, é bicho que dá e passa.
Numa noite, quando a fila passava à sua frente na direção do mel, nosso rato, agora sem rabo ficava chiando e reclamando alto... Negada, larga o mel do homem!

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