O que a gente ficou sem saber do Pecém
Coincidente ao início do equinócio, a segunda quinzena do mês de março é
sempre ansiosamente aguardada por profetas, agricultores e gestores
públicos municipais e estaduais de todo o nordeste, de modo muito
especial os do Ceará, cujo dia do padroeiro celebra-se justo ao final
deste período (dia 19 de março). Por sorte e, claro, por fé e força em
São José, as boas chuvas já se registram levemente acima da média
histórica, e, aos poucos, milímetro a milímetro, recarregam quase todas
as bacias dos grandes mananciais do estado, garantindo assim alguma
segurança hídrica para o segundo semestre de 17, até que se consolidem
as recargas definitivas dos poços, cacimbões e açudes na próxima quadra
chuvosa, no ano de 18. Coincidiu também com as proximidades dos
festejos de São José, duas notícias bastante alvissareiras para a
economia do Estado do Ceará - sobretudo em tempos das trevas que
prenunciam "o fim do mundo", com as assustadoras delações dos dirigentes
da tal ODEBRECHT, que ora supuram dentro dos processos comandados pelo
sétimo cavaleiro do apocalipse, que, de Curitiba, reluz sua seletiva
espada vingadora. Quais sejam, a CONCESSÃO DO AEROPORTO PINTO MARTINS à
germânica FRAPORT, administradora de 16 importantes terminais
aeroportuários mundo afora, em especial de 2, o de Lima no Peru, hoje
maior e mais dinâmico do que o de Guarulhos-SP, que outrora luzia a fama
de maior da América do Sul, e o Frankfurt-am-Mein, terceiro maior
terminal da Europa, e de largo, um dos mais respeitados do Planeta, dado
certamente, entre outros motivos, a decantada precisão e competência
dos processos técnicos-financeiros-gerenciais alemães. Desse mato, estou
certo, "sairá cachorro". Não demora, e em Fortaleza teremos um baita
aeroporto ! A outra notícia, entretanto, vem me pousando uma mosca atrás
da orelha. Diretamente ao ponto, trata-se do início das operações
consorciadas de gerenciamento do Porto do Pecém com a Autoridade
Portuária que administra o Porto de Rotterdam, na Holanda. De cara, devo
dizer, não tenho nenhuma dúvida quanto a capacidade dos holandeses.
Justo o contrário. É na verdade admirável como um paisinho cujo
território é menor que a metade do nosso estado, consegue ter uma
economia tão pujante, dinâmica e inovadora. A Holanda, é um puta país ! E
aqui não vai qualquer trocadilho as loiras donzelas que se põe as
vitrinas da Red Light, de Amsterdam. Não, não mesmo. A Holanda é, por
assim dizer, uma pequena Alemanha. Com um histórico menos belicoso e um
povo destacadamente mais alegre, vis-à-vis, as turbas laranjas que
invadem as arquibancadas dos estádios a cada Mundial de Futebol.
A
frase: “Quem viveu da primeira estaca onshore, até a ultima pedra do
primeiro enrocamento do porto do Pecém, sabe o que é o Pecém pro Ceará”.
Eu, que documentei a construção.
Pois bem (Nota da foto)
Tenho lido e ouvido dos comentaristas econômicos locais, que dentro do
processo de assunção ou, melhor dizendo, dentro do programa de
compartilhamento da gestão do Porto do Pecém, os batavos "ficarão com 25
% da CEARAPORTOS" (empresa de capital misto controlado pelo estado que é
dona do porto), informação pela qual me saltam de imediato algumas
indagações.
Pergunta primeira
1 - Porque especificamente os
holandeses do Porto de Rotterdam é que vão se consorciar ao Pecém ? Qual
foi o processo dessa eleição ?
Pergunta segunda
2 - Para
ficar apenas na Europa - e com a mesma exemplar reputação dos holandeses
- porque não os alemães de Hamburgo, ou os ingleses de Southampton, ou
ainda os catalães de Barcelona, que num processo público e aberto de
escolha não deveriam também disputar essa participação na gestão do
Pecém ?
Pergunta terceira
3 - Qual foi a dinâmica que
apontou Rotterdam ? Não seria melhor, a exemplo do que foi feito com o
Aeroporto Pinto Martins, que se estabelecesse um processo internacional
de concessão pública, com leilão presidido numa bolsa de valores ?
Os ângulos da visão
Bom, foi justamente dada a coincidência das datas envolvendo os
processos de participação de capital privado nas gestões do Pinto
Martins e do Pecém, e notadamente da diferença angular das formas como
estão sendo feitas, que me despertaram os motivos para tratar desses
assuntos aqui na coluna.
Boa-fé
Acredito na boa-fé e na
capacidade dos gestores públicos de ambas as instituições, mas também
acredito que povo cearense precisa saber, com ampla transparência e
claridade, como, afinal, o seu maior ativo patrimonial consolidado
arrumou esses sócios. Só isso. "De vraag wordt gelanceerd !", em
holandês, "A pergunta está lançada !".
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