Vila do Conde (Portugal) 14 graus.
Já há ofertas para contratar médicos por 800 euros por mês
Clínica de Braga está a admitir um especialista em medicina geral por 800 euros mensais, com uma folga semanal rotativa
"Admite-se
Médico /a especialista em Medicina Geral e Familiar. Em horário: das
10h às 16.30 com uma folga semanal rotativa. Condições iniciais:800
euros mensais". O anúncio de emprego - colocado por uma clínica de
Braga, através de uma empresa prestadora de serviços - circula há três
semanas no portal de emprego no Linkedin, e provavelmente a vaga
continua por preencher.
O valor da
remuneração proposta indicia que a precariedade está a chegar a uma área
tão sensível como a medicina, embora os jovens médicos não façam chegar
essas denúncias à Ordem ou aos sindicatos. "É um valor inaceitável",
disse ao DN o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
Confrontado com a oferta, o médico adverte no entanto para a
possibilidade de se replicar: "Os médicos em Portugal têm um nível de
remuneração que não corresponde à responsabilidade que têm, isso é
facilmente avaliável pelo que já existe em jurisprudência, sobre as
indemnizações que os médicos têm que pagar por erros cometidos ou por
complicações. O volume a pagar é completamente desproporcional àquilo
que são as remunerações habituais dos médicos a nível do serviço
público. Temos dos valores mais baixos da Europa. Só nos países de leste
é que há remunerações abaixo", sublinha o bastonário. A remuneração -
que varia consoante o grau na carreira médica, mas chega a atingir os
50/60 euros por hora - é apenas um dos fatores que tem afastado os
médicos do Serviço Nacional de Saúde. "Com os cortes nos últimos anos,
também há médicos que chegam a ganhar valores na casa dos cinco/ seis
euros por hora, o que é inaceitável para a responsabilidade que têm no
exercício da sua profissão", lembra Miguel Guimarães.
Uma
parte significativa dos médicos está a optar por não continuar no SNS,
mas antes no setor privado. São empurradas para isso. Lá as condições de
trabalho são altamente concorrenciais com o setor público. E depois
outros optam pela emigração", disse. O responsável máximo da Ordem dos
Médicos acredita que só há uma forma de inverter a situação: melhorando
as condições de trabalho, a vários níveis. "O primeiro tem a ver com
respeito do poder político - desde as estruturas do Governo às de
direção hospitalar, ARS. Porque as condições são más. Por exemplo, no
acesso à formação, muitos vão fazê-la quando têm o apoio da indústria
farmacêutica, quando não têm são eles a pagar. Depois fazem cada vez
mais horas extraordinárias para tapar buracos no Serviço Nacional de
Saúde. É evidente que um médico nessa perspetiva olha para fora e sai. E
infelizmente para o nosso SNS uma parte significativa dos médicos está a
sair". O bastonário acredita que " existem outras alternativas para
tentar manter os médicos no país", e fala no exemplo dos dias de férias.
"Em França fizeram isso muito bem, deram mais 10 dias de férias aos
médicos. Chegam aos 45 dias, enquanto cá têm 22 ou 23". Depois aponta a
formação: "O Estado dá vários dias por ano para formação, mas não a
patrocina. E a formação médica é muito cara. Num congresso nacional ou
internacional, em que estão as pessoas com mais conhecimento, as
inscrições infelizmente são muito elevadas. Um congresso chega a custar
1500 euros, só a inscrição. Conheço médicos que enviaram trabalhos,
foram aceites por congressos internacionais e acabaram por não ir
apresentar porque não tinham apoio".
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