"Bom dia
E
será só Mariana?
Hoje
faz um ano da tragédia de Mariana. Mortos deixaram saudades. Fazem falta. Os
distritos e cidades ao longo do rio Doce, também morreram e são também apenas
saudade. A economia foi embora. A pesca acabou. A alegria acabou. Mariana é
mais que um retrato na parede, como diria Drumont e como dói.
No
museu de arte de Congonhas do Campo, onde se guardam as histórias de
Aleijadinho, a arte barroca e a vida de Feliciano Mendes, o criador da Igreja
Matriz do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, guarda em um espaço especial, um
pedaço do tempo,com paredes salvas à tragédia para lembranças e alertas.
Congonhas,
cidade histórica que guarda o maior conjunto de arte barroca das Américas, os
doze profetas de Aleijadinho e as 66 figuras de cedro rosa dos Passos da Crucificação,
tem uma dessas barragens. A CSN-Companhia Siderurgica Nacional, minera em
território congonhense há dezenas de anos e, como em todos os lugares onde há
mineração, tem lá sua barragem de rejeitos e com isso corre seus riscos. A
cidade fica a jusante da barragem de rejeitos e todos temem por sua segurança.
A
barragem da CSN tem, abaixo, um vale e no fundo dele o Rio Maranhão que corta a
cidade. No caminho casas e acampamentos. O que parece um lago, um açude, na
verdade é uma das 379 barragens de rejeitos que hoje há no Brasil e que
deveriam ser, e não são, constantemente fiscalizadas pelo DNPM-Departamento
Nacional de Produção Mineral, órgão do Ministério de Minas e Energia que não
tem dor de cabeça com os riscos que correm populações inteiras.
Em
um encontro com o Prefeito Zelinho Cordeiro (de camisa azul), naquele instante
acompanhado de seu Chefe de Gabinete, Lúcio Coimbra, fiz ver o perigo que a
cidade corria. Perguntei se ele não estava preocupado com aquela barragem de
rejeitos da CSN e Zelinho desconversou, dizendo que como prefeito, agora
reeleito, não havia autorizado a construção de casas e conjunto habitacional no
caminho do barramento. Zelinho pareceu não viver o problema do risco.
Como
todas as barragens de rejeitos do Brasil, a barragem da CSN, em Congonhas, também
está pondo em risco a segurança da cidade. Numa análise mais rápida, o chefe de
Gabinete acima citado, Lucio Coimbra, vê uma catástrofe de a barragem estourar.
Primeiro entope e represa o rio Maranhão que por seu turno inundará a cidade
numa extensão de pelo menos 10 quilômetros eis que seu curso interrompido se
espalhará por todo o perímetro central.
Gente
humilde que é obrigada a morar no caminho da barragem da CSN diz que desde a
tragédia de Mariana não consegue dormir em paz. Há sempre um sobressalto,
falam. Seus temores têm fundamento. Estudos mostram que todas, sem exceção, são
barragens que trazem riscos à cidades e às suas populações. A vida que se
esvaiu em Mariana, poderá não só fazer de Congonhas outro retrato na parede e
como aquele doer para o resto de todas as vidas.
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