"Um primeiro-ministro que foi vendedor de chá deu voz a milhões de jovens indianos"
O
português Constantino Xavier é investigador no Carnegie Índia, parte do
Carnegie Endowment for International Peace, um think tank global,
presente em mais de 20 países e criado no início do século XX através da
doação de um magnata americano. Doutorado pela Johns Hopkins
University, nos Estados Unidos, Xavier tem estudado sobretudo a política
externa indiana e a relação com os países vizinhos. Nesta entrevista
por e-mail ao DN a partir de Nova Deli, mostra-se otimista com o futuro
da Índia, que hoje celebra os 70 anos de independência.
Jawaharlal
Nehru e o Mahatma Gandhi reconhecer-se-iam nesta Índia que tem a
economia a crescer a 7% graças a reformas capitalistas, possui armas
nucleares e é governada por Narendra Modi, líder de um partido
nacionalista hindu?
Nehru
e Gandhi não se reconheciam na Índia de 1947, nem Modi se reconhece na
Índia de hoje. O país enfrenta imensos desafios e é a visão de uma Índia
mais confiante, desenvolvida e poderosa que continua a guiar qualquer
líder do país. Com Modi, aumentou a vontade de assumir riscos, de
abraçar reformas cruciais no plano social, económico e militar, mas os
objetivos são os mesmos: tornar a Índia um país desenvolvido, eliminando
a pobreza.
O fracasso
do Congresso nas últimas eleições significa uma derrota da ideia de
Índia laica ou simplesmente o esgotamento da dinastia dos Nehru-Gandhi
como líderes do partido que conduziu o país à independência faz agora 70
anos?
Representa,
acima de tudo, a vontade do eleitorado jovem em ver um líder que
representa uma nova Índia, jovem e confiante. Um primeiro-ministro que
foi vendedor de chá, vindo de meios simples, deu voz aos milhões de
jovens indianos que aspiram a ter uma oportunidade semelhante, de
ascensão social e económica.
Com
1250 milhões de habitantes, a chamada maior democracia do mundo merece
mesmo o título apesar do peso político das dinastias, dos partidos de
casta ou regionais, do voto ordenado por caciques locais?
A
Índia não só é a maior democracia do mundo, em dimensão, mas também o
principal modelo para todos os países que procuram o desenvolvimento por
via do pluralismo. O facto de, ao contrário da União Soviética, a Índia
ter sobrevivido como projeto político apesar da sua imensa diversidade,
reflete um imenso sucesso. A imensa maioria parlamentar do BJP acalmou a
ansiedade do eleitorado em relação à instabilidade governamental que o
país atravessava desde os anos 1990, com constantes mudanças de
coligação. Por outro lado, há o perigo de a liderança carismática, a
maioria esmagadora, e políticas centralizadoras se transformarem
rapidamente em tendências autoritárias.
A grande diferença da Índia para o Paquistão, também nascido há 70 anos, é a ausência das forças armadas da política?
O
cariz apolítico e apartidário das forças armadas indianas é um modelo
para muitos países. Mas as diferenças para com o Paquistão também passam
pela natureza laica do regime indiano, e pela capacidade agregadora do
Estado. Ao contrário do Paquistão, em que as minorias têm emigrado em
massa perante a rápida islamização do país, na Índia as minorias
continuam a sentir-se seguras, pese embora ocasionais ameaças de grupos
mais extremistas. Não é por acaso que a Índia continua a ser o único
país da Ásia do Sul a atrair refugiados e minorias perseguidas de toda a
vizinhança, com uma política de portas abertas, incluindo para os
budistas tibetanos, os hindus do Bangladesh, e os rohingya muçulmanos do
Myanmar.
Crê possível a paz entre indianos e paquistaneses ou a disputa sobre a soberania de Caxemira impossibilita-o?
A paz é já uma realidade porque tanto o Paquistão como a Índia sabem que será impossível alterar o status quo
da fronteira provisória que separa a Caxemira. Ambos os países vão
continuar oficialmente a reivindicar o território do outro, mas na
prática assistiremos, mais cedo ou mais tarde, à partilha pacífica de
Caxemira. A grande diferença é que, ao contrário da Índia, o Paquistão
continua a apoiar grupos terroristas como instrumento de pressão sobre a
Índia.
A Índia está a
caminho de ser uma grande economia e grande potência. Acha possível que
seja um dia parte de um triunvirato de superpotências junto com Estados
Unidos e China?
O
pensamento em Nova Deli hoje é menos como tornar a Índia numa
superpotência mas como enfrentar um duplo desafio no horizonte imediato.
Primeiro, como lidar com o declínio relativo dos EUA - acelerado com a
eleição de Donald Trump - e dar continuidade a mais de quinze anos de
aproximação estratégica indo-americana. Segundo, e de forma
complementar, como lidar com uma China em ascensão, mais poderosa e
agressiva para com os seus vizinhos, seja no mar do Sul da China ou ao
longo da fronteira disputada com a Índia nos Himalaias. A questão
fundamental estratégica indiana deixou de ser se a China é uma ameaça e
passou a ser como lidar com a ameaça China.
Literatura, gastronomia, filosofia. Quanto vale o soft power indiano?
Vale
o que o governo indiano for capaz de investir nele e assim transformar a
imagem benigna da Índia em capital de influência no estrangeiro. Os
chineses têm sido mais inteligentes nesse campo, e também com mais
capacidade financeira. Se a Índia ficar simplesmente à espera que o
mundo reconheça a sua extraordinária riqueza e diversidade cultural,
pode ficar à espera sentada. De pouco vale a estrela de Bollywood Shah
Rukh Khan se os europeus continuarem a aprender mandarim e a comprar
produtos chineses.
O
novo presidente indiano, Ram Nath Kovind, é um dalit, mas mesmo assim
será prematuro dizer que as castas deixaram de importar na Índia?
As
castas importam mais do que nunca na Índia, com um sistema político e
educacional baseado nas quotas preferenciais para os grupos
tradicionalmente mais discriminados. Isto leva a tensões entre os que
defendem o interesse nacional, a longo termo, com critérios
meritocráticos, e os que advogam maior intervenção estatal para
estabelecer maior igualdade socioeconómica. Os empresários e
empreendedores capitalistas tendem a defender a primeira abordagem,
argumentando que o crescimento não pode estar preso a condições e
critérios extra-económicos.
Qual o lugar de muçulmanos, cristãos e sikhs na Índia?
A
Índia é o país com a segunda maior população muçulmana do mundo. Há
quase três vezes mais cristãos na Índia do que em Portugal. Os sikhs são
reconhecidos como um dos grupos mais empreendedores e dinâmicos. Mas há
correntes ideológicas que defendem um lugar especial para o hinduísmo
na Índia, e que nesse sentido advogam políticas discriminatórias para as
minorias religiosas. Conter essa linha nacionalista hindu será um dos
principais desafios para Modi que tem repetidamente sublinhado que a
Índia é um país com uma constituição secular e que preza a não
violência.
Como vê o futuro de Goa? Legado português sobrevive ou está condenado a desaparecer?
O
desafio para Lisboa não é tanto preservar o legado português em Goa, e
um pouco por toda a Índia, mas renová-lo. As relações luso-indianas são
ciclicamente minadas por correntes extremistas, entre saudosistas
nostálgicos do regime colonial, por um lado, e antiportugueses
primários, do outro. Para além de Fátima, fado e futebol, há um outro
Portugal que começa agora a emergir na Índia, com uma imagem moderna
passada por via de empreendedores nas artes e restauração, ou por via do
cinema Bollywood.
Narendra
Modi e António Costa parecem ter boa química, até pela troca de visitas
recente a Nova Deli e a Lisboa. Portugal poderá beneficiar com uma nova
relação com a Índia sem os empecilhos das memórias coloniais?
Portugal
já está a beneficiar da nova abordagem indiana. Para além de Goa, são
agora Nova Deli, Bombaim e Lisboa os alicerces da nova relação entre os
dois países. É uma relação que ultrapassa o plano estritamente bilateral
e foca também a importância de parcerias estratégicas em países
terceiros, especialmente no mundo lusófono. Do lado indiano, há grande
interesse em ver Portugal como um parceiro em Moçambique ou no Brasil.
Posso
lhe pedir que sugira um livro, mesmo que só exista em inglês, que
permita perceber melhor o que é esta nação-civilização Índia, que
historicamente inclui Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka e Nepal?
The Idea of India,
de Sunil Khilnani, capta bem a visão dos fundadores da Índia, em 1947,
especialmente de Nehru. Serve de referência para perceber as linhas de
continuidade e mudança com Modi.
Como imagina a Índia quando celebrar o centenário em 2047?
Teremos
uma de duas Índias. Uma Índia com contínuas dificuldades económicas,
subjugada perante uma China superpotência, e à procura de alianças
pontuais com os EUA e outras potências para garantir alguma autonomia de
Pequim. Ou uma Índia com níveis de desenvolvimento semelhantes aos do
Portugal de hoje, um dos dois ou três centros de um sistema multipolar,
ao nível da China e dos EUA e, acima de tudo, um modelo para outros
países em África e na Ásia.
Paulinho abriu mão de
R$ 28 milhões para se transferir ao Barça, diz jornal
13
Do UOL, em São Paulo
14/08/201718h45
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A transferência de Paulinho ao Barcelona não fez com que o tim... - Veja
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https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2017/08/14/paulinho-abriu-mao-de-r-28-milhoes-para-se-transferir-ao-barca-diz-jornal.htm?cmpid=copiaecola
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