MUITO TROVÃO, POUCA CHUVA
COLUNA CARLOS BRICKMANN
Esta semana política tem tudo para ser quente: hoje recomeça a CPMI da JBS,
e para que se tenha uma ideia do ânimo parlamentar, o primeiro a ser
chamado seria Eduardo Pellela, que foi chefe de Gabinete de Rodrigo
Janot, o procurador-geral da República que fez aquele acordo com Joesley
Batista. A CPI do BNDES também recomeça, e conforme
anunciou, quer passar o pente fino no banco, incluindo financiamentos no
Exterior (R$ 50 bilhões, na maior parte para obras da Odebrecht) e
contratos com Estados. Isso pode chegar a Lula, cujo papel na concessão
de créditos é investigado pelo Ministério Público. Aldemir Bendine, que
foi presidente do Banco do Brasil e da Petrobras no Governo Dilma,
acusado de receber R$ 3 milhões de propinas da Odebrecht, deve depor
hoje ao juiz Sérgio Moro. Ele tentou adiar o depoimento ou evitar que
fosse gravado. Nos dois casos, perdeu.
Amanhã,
quinta, o Supremo retoma a discussão da validade do foro privilegiado. O
privilégio vale para sempre, para qualquer caso, ou apenas para fatos
ocorridos durante o mandato e ligados ao exercício político? Quatro dos
11 votos já são conhecidos e restringem o foro privilegiado.
O
barulho está assegurado. As consequências, nem tanto. O ministro Dias
Toffoli, do Supremo, impediu a convocação de Pellela. O BNDES até hoje
se livrou de problemas (e, se atingido, ficará em silêncio?) E o debate
do STF sobre foro privilegiado pode parar se algum ministro pedir
vistas.
Calma no Brasil
O
problema é que os escândalos se alastraram tanto que ninguém tem
certeza de que, ao atingir um adversário, não irá também atingir
aliados. Joesley Batista não imaginava que, ao montar uma armadilha para
Michel Temer, estaria se jogando na cadeia, junto com seu irmão, e
derrubando as ações de suas empresas. Nem o procurador Miller esperava
fazer parte do rol dos atingidos. Eduardo Cunha não esperava cair com
Dilma, nem Dilma com Cunha. Hoje, todos querem ir devagar, até saber
quem cai com quem.
Exemplo
da velocidade com que o bonde anda: o julgamento do foro privilegiado
foi iniciado pelo STF em 1º de junho, há quase seis meses. E não se sabe
se termina amanhã – afinal, será julgado também o pedido de libertação
do ex-ministro Palocci, e é preciso evitar trabalho excessivo.
Cuidado com seus desejos
O
ministro Antônio Imbassahy, do PSDB baiano, tem boa reputação – tanto
assim que não foi bem aceito pelos aliados de Temer como ministro do
Governo. Deixa o cargo; seu substituto, ao que tudo indica, será Carlos
Marun, do PMDB (MS). Os antigos gregos diziam que, quando os deuses
queriam destruir alguém, atendiam a seus desejos.
Pois é: o caro leitor não desejava que houvesse substituição de ministros neste Governo?
Lugar de tucano
Além
de Imbassahy, os tucanos ministros são Luislinda Valois, aquela que se
compara aos escravos por ganhar apenas R$ 33 mil mensais, mais
penduricalhos, e Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores. Desde
seu pedido de aumento, Luislinda não abre a boca (ainda mais para pedir
demissão); e Aloysio, amigo de Temer, já disse que não pensa em sair.
Hoje há tucanos contra Temer, como Tasso Jereissati; a favor de Temer,
como Aécio e Aloysio; tico-tico-no-fubá, como Alckmin, que não quer o
PSDB na situação nem na oposição, nem muito pelo contrário. Em resumo,
os tucanos se mantêm firmes e unidos, como de hábito em cima do muro.
Trovão de verdade
Numa semana tão rica de eventos (mas frios), o que desperta as atenções é o lançamento de um ótimo livro: Laços de Sangue,
do procurador Márcio Sérgio Christino e do jornalista Cláudio Tognolli.
O livro informa que o chefão do crime organizado violento, Marcola, entregou à Polícia informações sobre os dois chefes da época, ambos fundadores do PCC: Geleião e Cesinha. Com isso, a Justiça impôs mais restrições aos dois, que foram isolados e perderam o poder. O PCC diz que a acusação é falsa.
Carcará paulista
Aquele
pássaro malvado, “que avoa que nem avião”, sobrevoa a Assembleia
paulista e ameaça provocar uma demissão em massa a menos de um mês do
Natal. O pássaro predador não é convocado por causa de nenhuma
irregularidade – não é surpreendente? A TV Assembleia é gerida há quatro
anos, após concorrência pública, pela Fundação Fundac, a mesma que gere
a TV Justiça no STF. Seu contrato deve acabar no fim de 2018.
Mas
o atual presidente da Assembleia, deputado Cauê Macris (PSDB), quer
rescindir o contrato – o que provocará a demissão de 80 funcionários, a
substituir por outros, da empresa que assumirá o contrato. Economia? Não
deve ser: Cauê Macris se propõe a contratar por R$ 35 milhões uma
agência de propaganda, para divulgar a Assembleia. Se o contrato for
rescindido, a empresa prejudicada entra com processo. É tudo muito caro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário