Opinião
AS MAGIAS DO NATAL
Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 10 DE DEZEMBRO DE 2017
A
frase é de Lula, nesta terça, no Maranhão: “Todo ladrão tem de ir para a
cadeia”. O Maranhão, Estado mais pobre do Brasil, é dirigido pela
família Sarney, aliada de Lula, ou pelo PCdoB, aliado de Lula.
O
PSDB está dividido, com relação ao Governo Temer, entre o Muro e o Muro
do B. O Partido do Muro, chefiado pelo chanceler Aloysio Nunes, aceita
tudo, menos descer de lá de cima. O Muro do B, chefiado por quem não tem
força no Governo, combinou com o presidente Temer “uma saída elegante”.
Como diria Temer, tê-la-ão: o PSDB certamente ficará feliz quando
souber que o pé que vai levar no local adequado usa calçados finos.
Sérgio
Cabral, PMDB, ex-governador do Rio, condenado em primeira instância a
72 anos de prisão (mas pode me chamar de 30, pena máxima a ser
cumprida), presta o Enem nesta semana para História. Cabral, formado em
Jornalismo, diz que adora História. Nada mais justo: o Brasil foi
descoberto pelo Cabral português, e outro Cabral, carioca, soube
pesquisar os tesouros que o país escondia. Tem mais: o estudo permite
abater parte da pena. Se o Brasil não mudou, será com certeza um bom
abatimento. Quem sabe teremos ainda novas chapas peemedebistas com Cunha
e Cabral?
Cabral
lembra algo de nossa história. Diz, por exemplo, que não é como Adhemar
de Barros, ex-governador paulista que cunhou o slogan “rouba mas faz”.
E não é mesmo: obra de Adhemar podia ser cara, mas era feita.
Bom velhinho sempre vem
Lembra-se
do doleiro Lúcio Funaro, envolvido desde 2003 na remessa de dinheiro
ilegal ao Exterior? Em 2003, foi apanhado por Moro, mas sabe como é, o
tempo passa, o tempo voa e ele foi se mantendo no ramo. Agora, apanhado
de novo, delatou muita gente e conseguiu pegar apenas dois anos de pena.
Mas vai passar o Natal em casa, porque o bom Papai Noel não se esquece
de ninguém. Sai da Papuda nesta semana, seis meses antes de completar os
já generosos dois anos com que havia conseguido se safar. Se Funaro,
que não pertence a partidos, sai tão cedo, por que outros vão ficar?
Conexão africana
O
ex-ministro Antônio Palocci, um dos homens mais importantes do Governo
Lula, coordenador da campanha de Dilma, totalmente abandonado pelos
companheiros quando foi preso, está concluindo sua proposta de delação
premiada, informa a revista Veja. Palocci promete provar que
Moamar Khadaffi, ditador da Líbia, deu um milhão de dólares à campanha
de Lula em 2002 – dinheiro lavadinho, a fundo perdido, “empréstimo” sem
devolução.
Lula
chamava o líbio de “irmão”. Khadaffi, ditador da Líbia por 42 anos, foi
deposto e morto em 2011. Palocci diz ter outras coisas a contar sobre
movimentação ilegal de recursos, mas a de Khadaffi tem um sabor
especial: a lei brasileira pune com o cancelamento de registro do
partido o recebimento de dinheiro do Exterior. Lula não poderá ser
candidato, nem o PT poderá apresentar outros candidatos: o partido
talvez seja extinto.
Espada a prêmio
Num
dos quatro encontros que teve com Khaddafi, Lula ganhou uma espada de
aço e ouro branco, cravejada de pedras preciosas. Ao deixar a
Presidência, Lula guardou a espada num cofre do Banco do Brasil, em nome
de sua esposa Marisa e do filho Fábio Luís Lula da Silva. A espada foi
localizada pelo juiz Sérgio Moro e devolvida ao Tesouro.
Alerta
Quem
conhece o empreiteiro Marcelo Odebrecht está convencido de que o
período na prisão não o modificou de forma alguma. Como dizia do rei
Luís 18 da França o chanceler Talleyrand, após a Revolução Francesa e o
período de Napoleão Bonaparte, “nada aprendeu e nada esqueceu”.
A reforma vem chegando
A
votação será mesmo apressada, atrapalhada, como aliás é frequente
ocorrer em nosso Congresso, principalmente quando se aproxima o recesso.
Mas tudo indica que a reforma da Previdência – meio esfarrapada – será
aprovada. E talvez seja aprovada até por mais do que se imagina,
especialmente se o pessoal mais resistente do PSDB descobrir que, se
continuar no muro, vai deixar claro que não teve a menor importância no
resultado da votação. É o risco que também corre o PSD de Kassab:
assistir à aprovação, deixando claro que, com ou sem PSD, Temer vai
vivendo.
Pior do que estava, fica
Não
se iluda com a suposta beleza do gesto de renúncia do deputado
Tiririca. Em oito anos, é seu primeiro discurso – a primeira vez que nos
deixa entrever sua posição política. Levou esse tempo todo desfrutando
os benefícios, aliás indecentes mesmo, que agora denunciou. E ainda
aproveitou para pagar as despesas de um espetáculo de circo do qual era o
astro com dinheiro da Câmara.
Tiririca, ao contrário do que prometeu, não contou o que é que um deputado federal faz. Mas seguiu o exemplo deles.
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