QUEM QUER SER MINISTRO?
MARLI GONÇALVES
Não
importa se com “O”, com “A”, o critério para nomear quem comanda as
áreas do governo é parecido a ficar lá debaixo de uma goiabeira,
esperando as goiabas caírem de maduras. Tanto faz, como tanto fez.
Impressionante, parece programa de mau humor
E
as goiabas estão caindo, todas, bichadas. Deus do céu, nem bem o ano
começou e a gente já tem de enfrentar essa gastura de ver a pobreza da
política nacional na enésima potência. Fica difícil ter esperança,
planejar, que dirá então apoiar.
Não
dá mais nem para fazer qualquer análise política séria, ter
imparcialidade – já é quase provocação substituírem os ruins pelos
péssimos, piores ainda, como foi, por exemplo, o caso agora do
Ministério do Trabalho, só o caso mais recente. Sai um ministro nada e
foi nomeada uma moça, olha que legal! Mulher! Já na primeira declaração
pública, Cristiane Brasil, que vem a ser eternamente apenas a filha de
Roberto Jefferson entre as vírgulas, correu para se autodeclarar feliz e
“empoderada”.
Não
passaram algumas horas para aparecerem condenações dela na área
trabalhista, e lembranças. Eu imediatamente lembrei que em 2015 essa
mesma moça queria fazer lei e proibir as mulheres de andar com
minissaias e decotes no interior do Congresso Nacional. Quis criar um
dresscode, uma regra de vestimenta.
Escrevi sobre o caso (“Deputada, faça-me o favor”) à época.
Ela
foi capaz de defender a ideia assim: “Queremos corrigir um erro
histórico. A gente sempre luta por equidade com os homens. O regimento
já determina o que os homens devem vestir mas não fala nada em relação
às mulheres”. Sim, ela disse isso.
Mas
como tudo pode piorar, como a nova ministra era deputada federal, sua
saída abriu uma vaga no Congresso que vai ser preenchida pelo deputado
Nelson Nahin (PSD-RJ). Você não o conhecia?
Vou apresentá-lo.
Não,
ele (ainda) não é acusado de corrupção. É pior, muito pior. Foi preso,
acusado de estupro e de participar de uma rede de exploração sexual de
crianças e adolescentes, em Campos de Goytacazes (RJ). Para completar,
mais familiaridade: é irmão de Anthony Garotinho, ex-governador do Rio,
aquele que tem feito voos rasantes e sempre bem escandalosos nas
penitenciárias. O adesivo de família feliz dessa turma deve ser uns
desenhinhos de todos atados entre si com algemas e tornozeleiras.
Nessa
semana houve mais um ministro que aproveitou a leva e pediu demissão, o
Marcos Pereira, o Pastor Marcos Pereira, como faz questão, Bispo da
Universal, que talvez vocês não tenham se dado conta: era o Ministro da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Cada
um desses seres representa um partido que, por sua vez, infelizmente
não representa nada para nós, mas para o governo pode dar votos na hora
em que eles pretendem aprovar mudanças e reformas; tão boas, mas tão
boas, que precisam dessas moedas de troca para passar, como se fossem
reféns, apostas, e às vezes nem com isso. Só pagando.
Toda
essa roda é comandada pelo tal Carlos Marun, Ministro da Secretaria de
Governo faz um mês, responsável pelas negociações políticas entre o
Palácio do Planalto e o Congresso. Um troglodita, vamos definir
basicamente assim. Você o verá diariamente nos telejornais – todo dia
apronta, ameaça, ou fala alguma bobagem - e haverá de concordar comigo.
Temeremos os próximos meses desse ano eleitoral. Há possibilidades de
trocas lindas como estas em 13 outros ministérios! Barganhas de todos os
tipos, cores, tamanhos e valores.
Imagina
os substitutos? Um tem de se abaixar e beijar a mão de algum tipo de
Sarney, outros terão de se submeter a ser atropelados todos os dias,
outro tem de ser mulher, para aumentar a cota feminina além de
Luislinda, aquela que se achava escrava com ganhos de mais de 30 mil
reais, e agora também a que leva Brasil no nome. Outros, ainda, deverão
ser do Nordeste, ou jurar que vão fazer sua turma votar a favor do
governo, ou – ao que parece ser um item bem importante – ter um passado
com alguma ficha corrida. Nem que seja uma citaçãozinha nas delações, um
Caixa 2 aqui, ali, um processo, uma escorregada, algo para explicar
melhor.
Como
pouco se sabe sobre os atuais, nem sobre os próximos que ocuparão
cadeiras e continuarão sem importância alguma e com inação total, indico
o endereço: http://www2.planalto.gov.br/presidencia/ministros.
O
governo está muito ocupado. Eles não se preocupam nem em atualizar os
retratinhos e as fichas. Deve ser por causa da alta rotatividade na
pensão.
Marli Gonçalves, jornalista – No Leilão Brasil, leva quem dá mais para bater o martelo na mesa. Ainda bem que é só o martelo.
Brasil, primeiros dias, 2018
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