Porque do meu encantamento por Cony


Quando o amor morre
CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - É o nome de uma antiga valsa francesa, trilha sonora de vários filmes que tiveram como cenário o fim-de-século -o outro, não esse que estamos vivendo. Nem chega a ser uma valsa triste. É melancólica como tudo o que acaba. Posteriormente, botaram uma letra nela, foi gravada por várias cantoras, depois passou de moda.
Lamento que não haja nenhuma valsa que seja o oposto, ou seja, quando o amor nasce. Não deveria ser necessariamente alegre -como a outra não chega a ser triste. Seria apenas melancólica porque cheia de esperas.
Não se deve confundir espera com esperança. A espera é a convulsão em que (ou onde) tudo pode acontecer. Esperança, entre outras coisas condenáveis, é uma virtude. Segundo Dante, o referencial único do inferno, onde se penetra deixando do lado de fora "toda esperança".
A espera é como a véspera -não é à toa que as duas palavras estão uma dentro da outra. De repente, sem que se faça força para isso, sem que nada de real aconteça, entramos contra a vontade num tenso "stand by". Tudo ou nada podem acontecer.
E, como o amor nunca é o primeiro, pois sempre houve outros, imprecisos, fragmentados e até esquecidos, a espera é a retomada de um caminho que não chega a ser novo, já tanto andamos e nos perdemos nele.
De qualquer forma, é um caminho que conhecemos. Só não sabemos quando e como vai terminar. Nem mesmo para onde vai nos levar. Mas tudo isso faz parte da espera.
Podemos medir a vida pela sucessão de esperas. Daí, talvez, a dificuldade de haver uma valsa dedicada ao amor que nasce. O amor que morre é mais fácil de ser compreendido e aceito.
Sendo cafona até o fim, lá vai a comparação: o amor que morre é a flor que começa a se despetalar. O amor que nasce é o botão que não sabe se merece a flor que o espera. (Com essa última frase inauguro um novo gênero: a crônica de churrascaria).

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