Opinião

Doria mentiu três vezes para mim no Jornal da Record News

Por três vezes, em entrevistas ao vivo _ no inicio da campanha de 2016, após a vitória e ao completar 100 dias de mandato _ o prefeito João Doria prometeu a mim, ao Heródoto Barbeiro, ao Nirlando Beirão e aos telespectadores do Jornal da Record News que cumpriria até o último dia seu mandato de quatro anos e não se candidataria à reeleição.
As entrevistas estão gravadas à disposição de quem quiser conferir.
Agora, apenas 15 meses após a posse, Doria anunciou alegremente no domingo que vai renunciar ao mandato para se candidatar a governador, deixando o vice Bruno Covas em seu lugar.
Repete, dessa forma, o mesmo que fez seu correligionário tucano José Serra, que largou a Prefeitura de São Paulo antes da metade do mandato, depois de assinar documentos públicos garantindo que ficaria no cargo durante quatro anos.
“Eu, João Doria, comprometo-me a cumprir integralmente meu mandato nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020 caso seja eleito prefeito da cidade de São Paulo em 2016”, escreveu João Doria em carta assinada ao Catraca Livre no dia 16 de setembro de 2016, antes da eleição.
Cinco dias depois, afirmou à TV Globo: “Serei prefeito por quatro anos e sem reeleição. Não há necessidade. Deixar oportunidades para outras pessoas, oxigenar o partido”.
Não mentiu só para nós, é claro. Doria repetiu a mesma mentira outras 11 vezes em entrevistas e palestras desde a posse, segundo levantamento feito pela Folha, até que no dia 12 de março deste ano escreveu em sua página nas redes sociais, com a maior cara de pau:
“Pessoal, não posso negar esta convocação. A maioria absoluta de representantes e lideranças do meu meu partido fez esse chamado (para ser candidato)”.
No último domingo, sob os acordes do “Tema da Vitória” que embalava as vitórias de Ayrton Senna, Doria surgiu eufórico no palco após sua esmagadora vitória com 80,02% dos votos nas prévias do PSDB, índice quase igual ao de Vladimir Putin (76,6%) ao ser eleito pela quarta vez presidente da Rússia.
Esquecendo tudo o que falou, escreveu e assinou, o quase ex-prefeito passou por cima das promessas com a mesma motoniveladora que usou para ganhar as previas:
“São Paulo não perde um gestor. São Paulo ganha dois gestores. Um no governo e outro na prefeitura”.
Animador de auditórios de empresários nos eventos da sua empresa, Doria desta vez só não usou o apito como costuma fazer para convocar a tropa.
No país do “novo normal”, onde tudo pode, quem é que ainda vai acreditar em promessas de políticos travestidos de gestores?
Quem garante que, caso seja eleito governador, também não abandone o cargo antes da hora para se candidatar a presidente?
Aliás, no PSDB tem muita gente desconfiada de que ele ainda não abandonou seu sonho presidencial, colocando-se como “stand-by” para o caso de Geraldo Alckmin não decolar na campanha.
Doria venceu em primeiro turno as eleições de 2016 apresentando-se como o “novo” para combater a velha política.
Vai ter que adotar outro rótulo agora porque este já não funciona mais.
Sem adversários competitivos até o momento, mesmo com sua popularidade em queda na maior cidade do país, João Doria confia na força do PSDB e de Alckmin no interior do Estado para chegar ao Palácio dos Bandeirantes.
Mesmo descumprindo promessas e ficando apenas um ano e pouco na prefeitura, é possível que ele vença as eleições dando uma banana para os prejudicados.
Tudo é possível quando as palavras já não valem mais nada.
Vida que segue.

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